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Transtorno do Desenvolvimento da Linguagem

O Transtorno do Desenvolvimento da Linguagem (TDL) é um dos transtornos do neurodesenvolvimento mais frequentes, atinge cerca de 7% das crianças aos 5 anos de idade e um dos menos conhecidos e diagnosticados.

 

Conhecê-lo e diagnosticá-lo corretamente é essencial para uma programação terapêutica eficaz.

 

Pelas características de linguagem e pelas alterações que causa no desenvolvimento da criança, o TDL é frequentemente confundido com Autismo, que por sinal, é bem mais raro, acometendo 2% da população.

Obrigatoriamente, por definição, TDL e Autismo não podem coexistir. Isso não quer dizer que autistas não podem ter transtorno de linguagem, somente não se pode usar o termo TDL nesses casos.

Para o diagnóstico de TDL, há a necessidade de um atraso de linguagem que persiste apesar do tratamento adequado para além dos quatro anos de idade e da exclusão de algumas situações médicas.

TDL é um quadro bastante heterogêneo.

De uma forma geral, as alterações de linguagem no TDL atingem tanto a linguagem expressiva como a receptiva (compreensão da linguagem do outro) e comprometem normalmente mais de um subsistema da linguagem, ou seja, pode haver duas ou mais alterações a seguir:  alterações fonológicas (no som das palavras), semânticas (no vocabulário), sintáticas (na ordem gramatical das frases) e/ou pragmática (no uso da linguagem).

Deve ficar claro também que TDL, apesar de ser um quadro específico do sistema da linguagem, apresenta algumas características que não são específicas do sistema de linguagem.

Vou explicar melhor!

Frequentemente, crianças com TDL apresentam alterações atencionais secundárias às dificuldades de linguagem, alterações de coordenação motora, uma brincadeira menos simbólica além de dificuldades de percepção auditiva. Saber identificar essas alterações que se somam ao transtorno de linguagem faz toda a diferença no encaminhamento terapêutico.

Quais são as condições médicas que devem ser afastadas antes do diagnóstico do TDL?

Como já disse, é fundamental descartar Autismo para o diagnóstico de TDL, mas ele não é o único.

Síndromes causadas por mutações genéticas, alterações metabólicas, deficiência intelectual, epilepsia, algumas más formações cerebrais estão entre as situações clínicas que não podem coexistir com TDL.

Uma avaliação foniátrica e uma avaliação fonoaudiológica são fundamentais para o diagnóstico de TDL e a terapia principal é a terapia fonoaudiológica de linguagem.

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Até quando posso esperar a fala aparecer?

Essa é uma dúvida muito frequente!

Será que meu filho está atrasado para falar?

Até quando posso esperar a fala aparecer?

Será que ele ainda não está no tempo dele?

Vamos pensar juntos sobre esse assunto.

Espera-se que as primeiras palavrinhas de uma criança apareçam por volta de um ano de idade. Mas para que isso aconteça, essa criança precisa iniciar o processo de aquisição de linguagem muito antes disso, provavelmente nos primeiros dias de vida!

Então, quando uma criança começa a falar, ela já passou por várias etapas importantes de entendimento e de elaboração de linguagem.

Por isso, costumo falar que não há um prazo para se aguardar uma criança falar. Não há uma idade que ainda dá para esperar.

O que há são marcos do desenvolvimento de linguagem esperados para cada faixa etária.

Os marcos mais aceitos e usados são o do CDC, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças do governo dos EUA e cada marco de aquisição de linguagem é definido quando 75% das crianças com aquela idade são capazes de fazer o esperado.

Então, não tem o que esperar. Se uma criança não atingiu um marco, independente da idade, ela está atrasada em relação a 75% das crianças com a mesma idade.

Isso não quer dizer que ela tenha algum diagnóstico específico. Só indica que talvez seja prudente uma avaliação mais específica daquela criança.

E os marcos começam aos 2 meses de idade, mostrando que a linguagem é algo que se constrói desde muito cedo.

Vamos ver os marcos de desenvolvimento de linguagem segundo o CDC?

Aos 2 meses:

  • Acalma-se quando falam com ela ou ela é atendida
  • Olha para o rosto do interlocutor
  • Parece feliz em ver o interlocutor ou quando ele caminha até ela
  • Sorri quando o interlocutor fala ou sorri para ela
  • Faz outros sons além de chorar
  • Reage a sons altos
  • Observa o interlocutor enquanto ele se movimenta
  • Olha para um brinquedo por vários segundos

Aos 4 meses:

  • Sorri sozinha para chamar a atenção do interlocutor
  • Ri (ainda não é uma risada completa) quando o interlocutor tenta fazê-la rir
  • Olha, se move ou faz sons para chamar ou manter a atenção do outro
  • Faz sons como “oooo”, “aahh”
  • Faz sons de volta quando falam com ela, como se respondesse
  • Vira a cabeça em direção ao som da voz do interlocutor
  • Se estiver com fome, abre a boca quando vê a mama materna ou a mamadeira
  • Olha para as mãos com interesse

Aos 6 meses:

  • Reconhece pessoas do seu convívio
  • Gosta de se olhar no espelho
  • Dá risadinhas
  • Intercala os balbucios com a sua fala (chamamos de balbucio em turno)
  • Dá gritinhos para chamar a atenção
  • Coloca as coisas na boca para explorá-las
  • Se esforça para pegar um brinquedo que ela quer
  • Fecha os lábios para mostrar que não quer mais comida

Aos 9 meses de idade:

  • Mostra várias expressões faciais, como feliz, triste, irritada e surpresa
  • Olha e aparece quando chamam o nome dela
  • Reage quando o interlocutor sai (olha, estende a mão para você ou chora)
  • Sorri ou ri quando brincam com ela, por exemplo, de esconde e acha
  • Faz muitos sons diferentes como “mamamama” e “bababababa”
  • Levanta os braços para ser pega
  • Procura objetos que não estão no seu campo de visão (como sua colher ou brinquedo)
  • Bate duas coisas para fazer barulho

Aos 12 meses de idade:

  • Joga pequenos joguinhos, bate palminhas, faz gracinhas
  • Dá tchau
  • Chama o papai e a mamãe (papa, mamã)
  • Entende “não” (claro que obedecer é outra coisa, né?)
  • Coloca algo em um recipiente, como um bloco em um copo
  • Procura coisas que ela vê esconder, como um brinquedo debaixo de um cobertor

Aos 15 meses de idade:

  • Copia outras crianças enquanto brinca
  • Mostra um objeto que ela gosta
  • Bate palmas quando excitado
  • Abraça a boneca de pelúcia ou outro brinquedo
  • Mostra afeição (abraços, abraços ou beijos)
  • Tenta dizer uma ou duas palavras além de “mama” ou “papa”, como “bo” para bola ou “ca” para cachorro
  • Olha para um objeto familiar quando o interlocutor o nomeia
  • Segue as instruções dadas com um gesto e palavras. Por exemplo, dá um brinquedo quando o interlocutor estende a mão e diz: “Dá a bola”.
  • aponta para pedir algo ou obter ajuda
  • Tenta usar as coisas da maneira certa, como um telefone, um copo ou um livro
  • Empilha pelo menos dois objetos pequenos, como blocos

Aos 18 meses:

  • afasta-se do interlocutor, mas procura ter certeza de que ele está por perto
  • Aponta para mostrar algo interessante
  • Coloca as mãos para o cuidador lavá-las
  • Olha algumas páginas de um livro com o interlocutor
  • Ajuda a se vestir empurrando o braço pela manga da camiseta ou levantando o pé para colocar a calça
  • Tenta dizer três ou mais palavras além de “mama” ou “dada”
  • Segue instruções de um passo sem gestos, como dar o brinquedo quando dizem: “Dê para mim”.
  • Copia tarefas do dia a dia, como varrer a casa
  • Brinca com brinquedos de forma simples, como empurrar um carrinho

Aos 2 anos:

  • Percebe quando os outros estão magoados ou chateados, faz uma pausa ou parece triste quando alguém está chorando
  • Olha para o rosto do interlocutor para ver como reagir em uma nova situação
  • Aponta em um livro a figura quando perguntam: “Onde está o urso?”
  • Diz pelo menos duas palavras juntas, como “Mais leite”.
  • Aponta para pelo menos duas partes do corpo quando solicitado que mostre.
  • Usa mais gestos do que apenas acenar e apontar, como mandar um beijo ou balançar a cabeça sim
  • Segura algo em uma mão enquanto usa a outra; por exemplo, segura um pote e tira a tampa
  • Tenta usar interruptores, botões ou botões em um brinquedo
  • Brinca com mais de um brinquedo ao mesmo tempo, como colocar comida de brinquedo em um prato de brinquedo

Aos 30 meses

  • Brinca ao lado de outras crianças e às vezes brinca com elas
  • Mostra o que ela pode fazer dizendo: “Olhe para mim!”
  • Segue rotinas simples quando solicitada, como ajudar a pegar os brinquedos quando você diz: “É hora de guardar”.
  • Diz cerca de 50 palavras
  • Diz duas ou mais palavras juntas, com uma palavra de ação, como “Corrida de cachorrinho”
  • Nomeia coisas em um livro quando o interlocutor aponta e pergunta: “O que é isso?”
  • Diz palavras como “eu”, “ele” ou “nós”
  • Usa coisas para fingir, como dar um bloco a uma boneca como se fosse comida
  • Mostra habilidades simples de resolução de problemas, como ficar de pé em um banquinho para alcançar algo
  • Segue instruções de duas etapas, como “Coloque o brinquedo no chão e feche a porta”.
  • Mostra que ela conhece pelo menos uma cor, como apontar para um giz de cera vermelho quando perguntam: “Qual é o vermelho?”

Aos 3 anos:

  • Capaz de se acalmar de um choro em 10 min depois de entrar na escola.
  • Observa outras crianças e se junta a elas para brincar
  • Conversa com o interlocutor usando pelo menos duas trocas de ida e volta
  • Faz perguntas “quem”, “o quê”, “onde” ou “por que”, como por exemplo, “Onde está mamãe/papai?”
  • Diz qual ação está acontecendo em uma foto ou livro quando perguntada, como “correr”, “comer” ou “brincar”
  • Diz o primeiro nome, quando perguntada
  • Fala bem o suficiente para que os outros entendam, na maioria das vezes
  • Copia um círculo.
  • Evita tocar em objetos quentes, como um fogão, quando avisada

Aos 4 anos:

  • Finge ser um personagem durante a brincadeira (professor, super-herói, cachorro)
  • Pede para ir brincar com as crianças mesmo que não estejam por perto como “Posso brincar com o Alex?”
  • Conforta os outros que estão feridos ou tristes, como abraçar um amigo chorando
  • Evita o perigo, como não pular de grandes alturas no playground
  • Gosta de ser uma “ajudante”
  • Muda o comportamento com base em onde ela está (igreja, biblioteca, playground)
  • Diz frases com quatro ou mais palavras
  • Diz algumas palavras de uma música, história ou canção de ninar
  • Fala sobre pelo menos uma coisa que aconteceu durante o dia, como “joguei futebol”.
  • Responde a perguntas simples como “Para que serve um casaco?” ou “Para que serve um giz de cera?”
  • Nomeia algumas cores
  • Conta o que vem a seguir em uma história bem conhecida
  • Desenha uma pessoa com três ou mais partes do corpo

Aos 5 anos:

  • Segue regras ou se reveza quando brinca com outras crianças
  • Canta, dança ou atua para você
  • Faz tarefas simples em casa, como juntar meias iguais ou limpar a mesa depois de comer
  • Conta uma história que ouviu ou inventou com pelo menos dois eventos. Por exemplo, um gato ficou preso em uma árvore e um bombeiro o salvou
  • Responde a perguntas simples sobre um livro ou história depois do interlocutor contar a ela
  • Mantém uma conversa em andamento com mais de três trocas de ida e volta
  • Usa ou reconhece rimas simples (mão-pão)
  • Conta até 10
  • Nomeia alguns números entre 1 e 5 quando você aponta para eles
  • Usa palavras sobre o tempo, como “ontem”, “amanhã”, “manhã” ou “noite”
  • Presta atenção por 5 a 10 minutos durante as atividades. Por exemplo, durante a hora da história ou fazendo artes e ofícios (o tempo de tela não conta)
  • Escreve algumas letras em seu nome
  • Nomeia algumas letras quando você aponta para elas
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Preciso mesmo fazer o Bera?

Se você já esteve frente a frente com um pedido de Bera para o seu filho, sabe do que estou falando.

Se você não passou por essa situação, vou te explicar o que é o Bera.

O Bera, ou em português, Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico (PEATE), é um exame que mede a audição de uma criança pequena.

Ele usa o mesmo princípio de exames como o eletrocardiograma ou o eletroencefalograma, ou seja, o Bera capta resposta elétrica do nervo e dos neurônios auditivos por meio de eletrodos colocados na cabeça e perto das orelhas.

Como é um exame auditivo, é necessário estimular a via auditiva com sons que são dados por meio de fones de ouvido.

Ele é o exame de escolha para avaliação auditiva de crianças bem pequenas, com menos de um ano de idade ou para a avaliação de crianças maiores que por algum motivo, não fazem o exame de audiometria.

Então a regra funciona assim: se a criança consegue fazer audiometria, que é um exame que precisa de bastante colaboração, não precisa do Bera.

Se a criança não consegue colaborar para fazer audiometria, faz-se o Bera.

Toda criança com algum atraso no desenvolvimento da comunicação, da linguagem e da fala precisa de uma avaliação auditiva, mesmo que não haja suspeita de perda auditiva.

Algumas perdas auditivas passam desapercebidas em situações corriqueiras do dia a dia, mas podem atrapalhar o desenvolvimento infantil.

Então, respondendo à pergunta se precisa fazer mesmo o Bera……Sim precisa! Principalmente se a criança não fizer audiometria.

Mas talvez você esteja se perguntando, qual é o problema de fazer o Bera?

O problema é que precisa, na maioria das vezes, de anestesia geral para fazê-lo!

E é isso que tira o sono das mães, dos pais, das avós, das tias……

A resposta auditiva gerada durante o exame é bem pequena e sofre bastante influência de contrações dos músculos da região do pescoço e até de movimentos oculares. Por isso, a criança precisa estar dormindo em sono natural ou anestesiada.

Como é um exame longo, podendo durar até uma hora e a criança fica com vários fios na cabeça além dos fones de ouvido, raramente  crianças de 2, 3 anos conseguem durmir o tempo necessário naturalmente. Por isso a anestesia.

A dica aqui é fazer o exame em um local com infraestrutura adequada e com médico anestesista acompanhando a criança durante o exame.

Mas, o que não pode mesmo é deixar uma criança com atraso de comunicação, linguagem ou fala sem uma avaliação auditiva.